Moda e arquitetura

A arquitetura depende de outras artes para criar suas magníficas obras, e a moda é uma delas. A maneira como as pessoas se vestem é mais do que um costume, imprime a personalidade de cada indivíduo e expressa os valores da sociedade de uma determinada época. Voltando ao século passado, temos emblemáticos exemplos de como ela se relaciona com a arquitetura.

Um dos nomes mais significativos da alta-costura do século XX, o designer de moda Yves Saint Laurent, utilizou princípios da Bauhaus para desenvolver suas peças. Nos anos 1950 uma das estilistas mais talentosas de todos os tempos, Coco Chanel, afirmou que “moda é arquitetura, é só uma questão de proporção”. Na época, ela revelou ao mundo que uma das fontes de inspiração para suas criações eram as obras arquitetônicas, como as do arquiteto Le Corbusier.

Uma década depois, novos conceitos de design surgiram, contribuindo para que a fusão entre moda e arquitetura se tornasse ainda mais intensa. Oscar Niemeyer é um dos grandes exemplos, inúmeras vezes o arquiteto partiu das proporções do corpo feminino para fazer seus desenhos.

No final do século, as novidades de traços e cores passaram a ser empregadas no vestir e no morar ao mesmo tempo, movimento que ficou conhecido como lifestyle. Foi assim que as tendências começaram a sair das passarelas para às ruas, fazendo com que moda e arquitetura caminhassem juntas.

Neste ano, tive a oportunidade de me aprofundar nesse universo. Fui convidada pela Ferri São Paulo e pela Todeschini para, juntamente com outros 12 brilhantes profissionais, customizar um par de sapatos para compor a Exposição Arquitetura e Moda. Neste post, compartilho detalhes sobre o desafiador processo de criação do Acqua 35, que envolveu essas duas artes que tanto aprecio:

Aqua 35

Dado o desafio, busquei referências no Edifício Acqua, que conheci durante uma visita à Chicago. Se trata do maior prédio e o maior arranha céu já projetado por uma mulher, a arquiteta Jeanne Gang. Além disso, foi a primeira construção a unir condomínios (lojas e escritórios), apartamentos e hotel.


Imagem do Edifício Acqua, assinado por Jeanne Gang. Crédito: Divulgação.

Os espaços envidraçados da fachada são como espelhos d’água, formando uma cor que causa a sensação de movimento. Dependendo da perspectiva do observador, as linhas orgânicas parecem retas, criando uma autenticidade que se diferencia das convencionais linhas horizontais. Essa sinuosidade das ondas, combinada com as dançantes curvas que remetem às formas sensuais do corpo feminino, foram o ponto de partida do meu projeto.


Primeiro desenho do Acqua 35, assinado por Alessandra Gandolfi.

A proposta foi criar uma peça conceitual, não exatamente funcional, assim como acontece nos grandes desfiles de moda pelo mundo. Ou seja, por trás do projeto há uma ideia, um conceito e uma proposta, não exatamente um produto para uso. Meu objetivo era apresentar um sapato que homenageasse as mulheres, suas formas, suas predileções e seu trabalho. Assim surgiu o protótipo do Acqua 35:


Acqua 35 na versão 3D, assinado por Alessandra Gandolfi.

Primeiros testes realizados na marcenaria.

  

Projeto do Acqua 35 finalizado, assinado por Alessandra Gandolfi.

Essa experiência demonstra que moda e arquitetura dialogam em diversas questões.  Ambas estão sempre em busca do novo: novas inspirações, novas referências, novas visões, novas abordagens e novas experimentações.